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São Bento da Porta Aberta

São Bento da Porta Aberta

Breve Introdução

A 7 de Agosto de 1980, o Cónego Prof. Doutor Avelino de Jesus da Costa, publicou no “Diário do Minho”, um artigo fundamental sobre a verdadeira data da fundação do nosso Santuário. A actual Mesa, entendeu que o mesmo deveria ser colocado à disposição de todos os que nos visitam e que gostam de saber a verdade dos factos. Assim, publica-se agora o citado artigo que afasta a hipótese de uma fundação diferente da que teve o Santuário de S. Bento da Porta Aberta.

Estamos certos que será do agrado de todos conhecer, lendo o artigo de um dos mais sérios, sábios e profícuos Homens da História, que além de Cónego ilustre da Sé Catedral de Braga, foi um dos mais distintos Professores da Universidade de Coimbra.

 

O FUNDADOR DE SÃO BENTO DA PORTA ABERTA 

Até ao presente, tinham sido baldados todos os esforços feitos no sentido de averiguar a data e motivos da fundação do primitivo templo de S. Bento, na freguesia de Rio Caldo, que veio a tornar-se um dos mais célebres santuários portugueses, a que, durante o ano, acorrem centenas de milhares de peregrinos e numerosos turistas.

Na falta de documentos, surgiram lendas e hipóteses explicativas.

Ora, a Divina Providência permitiu que, neste ano jubilar em que se comemora o XV centenário do nascimento do glorioso taumaturgo, encontrássemos o documento tão ansiosamente desejado, e que adiante transcrevemos.

Perante a sua meridiana clareza, caem por terra todas as lendas e congeminações sobre a antiguidade e motivos da fundação do célebre santuário.

Eis como as coisas se passaram. Em 1614, o Rev.º Cónego Miguel Pinheiro Figueira, visitador das freguesias de Entre Homem e Cavado, foi à de Rio Caldo, onde verificou que o lugar da Seara da Forcadela ficava muito distante da igreja paroquial, o que tornava difícil a administração dos sacramentos aos seus moradores.

Para obviar a esta dificuldade, ordenou ao abade da freguesia, P. João Rodrigues, que, até ao Natal seguinte, mandasse construir uma ermida no referido lugar «por ser muito necessário e do serviço de Nosso Senhor».

O abade pôs logo mãos à obra e, em Junho de 1615, requeria licença para celebrar missa na ermida, que dedicara a S. Bento, pois ela estava «muito bem acabada, de fermosa parede, e bem caiada, com seu enchaxo (?) (-nicho) na parede, de seis palmos em alto, lavrado de esquadria, com suas folhagens e seu campanário muito bem feito.

Está bem emmadeirada d’olivel e toda forrada, com suas portas principal e travessa, de esquadria os portaes, e o telhado mui bem concertado e todas as telhas com cal. A invocação (é) do Padre Senhor São Bento, que está feito de vulto (-imagem), de quatro palmos e meio em alto, muito bem pintado».

A capela ainda não tinha altar nem paramentos, mas viriam da igreja paroquial, «que tem bastantes para tudo». Pedia, por isso, licença «pera dizer missa na dita hermida».

Seguidos os trâmites legais, o Sr. Arcebispo Primaz, a 29 de Junho de 1615, deu licença para «que se possa alevantar altar e dizer missas na hermida de São Bento ( … ) e nella fazer todos os mais officios divinos, não prejudicando porém em cousa algua os direitos da igreja matris em cujus lemites a dita hermida está situada».

Até finais do século XVII, a ermida de S. Bento não devia ter grande concorrência de devotos, porque o P. António Carvalho da Costa não a menciona, ao falar da freg. de Rio Caldo, no vol. I da sua Corografia Portuguesa, publicado em 1702.

Em 1758, porém, a ermida já era centro de grande devoção, segundo se depreende das informações que neste ano mandou para Lisboa o cura de Rio Caldo, que escreveu: «À ermida de S. Bento acodem muitos devotos e é frequentada a sua imagem nos dias do seu orago e em muitos mais dias do ano, pelos muitos milagres que obra em sua imagem». (Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Dicionário Geográfico).

Quase um século depois, em Dezembro de 1845, o P. João José Peixoto, arcipreste de Pico de Regalados, em resposta aos inquéritos paroquiais então feitos, informou: «A (Capela) de S. Bento da Porta Aberta, sita no logar da Seara, hé filial da igreja e, por isso, sua administração, corre sob o cargo da Junta de Freguesia».

«Hé notável pelo numeroso concurso de romeiros, que ahi se juntão em quasi todo o anno, sendo mais celebres os dias do primeiro sábado da quaresma, de 21 de Março, dia dos Prazeres de Nossa Senhora, no dia 11 de Julho, e desde 10 d’Agosto até dia d’Assunção de Nossa Senhora.

Hé grande a occurencia dos povos, e com tanta copia de esmollas que não há negocio de mais importancia entre aqueles paroquianos do que tractarem da eleição de paroquia com ponderosos impenhos, para nessa qualidade, poderem gozar do fructo d’essas esmollas com a maior avidez, o que, por muitas vezes, tem dado que fazer na freguesia.

A Capella está mui decente e tem os necessarios paramentos para nella se celebrar. Conserva sempre a porta aberta, ainda que de proposito se feche».

(Arquivo Distrital de Braga, Registo Geral, Inquéritos Paroquiais, Arciprestado do Pico de Regalados, fl. 64 v.).

Dos dois documentos inéditos e desconhecidos (não falando das Memórias paroquiais de 1758, que já foram utilizadas) tiram-se as seguintes conclusões:

– 1) A capela de S. Bento foi construída por imposição do visitador e não por iniciativa do pároco nem dos devotos;

– 2) O pároco, P. João Rodrigues, teve a providencial inspiração de a dedicar a S. Bento, dando origem ao actual santuário. Se a tivesse dedicado a outro santo ou santa, talvez continuasse a ser hoje uma humilde e esquecida capela, como tantas outras;

– 3) O grande desenvolvimento do culto a S. Bento deu-se a partir de meados do séc. XVIII, data em que a capela se chamava apenas de S. Bento, a que, anos mais tarde, se acrescentou «da Porta Aberta», por a sua porta se manter sempre aberta, como disse o arcipreste, P. João José Peixoto, em Dezembro de 1845;

– 4) A abundância das esmolas deu lugar a abusos de pessoas que procuravam governar-se à custa delas, em vez de promoverem o culto do santo titular:

– 5) Depois de meados do séc. XIX, a capela foi substituída por ampla e bela igreja, ultimamente muito valorizada.

O P. João Rodrigues, que bem merece ser homenageado pela Confraria de S. Bento, dando, por exemplo, o seu nome a algum local, aparece a baptizar em Rio Caldo a 2 de Fevereiro de 1604, mas ainda como abade de Santiago de Sabariz, em Vila Verde. A partir de 20 de Março deste ano, assina já como abade de Rio Caldo, onde continuava em Dezembro de 1626.

Petição e provisão per que se dá licença que se diga missa na hermida de São Bento, sita na freg.ª de São João de Rio Caldo.

Diz João Roiz, abbade de São João de Rio Caldo, que, visitando a dita igreja o anno proximo passado de mil seiscentos e quatorze, o Rev. ° Conego Miguel Pinheiro Figueira deixou no Livro da Visitação da dita igreja o capitolo seguinte: «Mando ao abbade que faça hua hermida na Seara da Forcadella pera administração dos sacramentos, por ser lugar remoto da igreja e de grande distancia de caminho, por ser muito necesario e do serviço de Nosso Senhor. O que cumprirá até o Natal, ornando-a de todo o necessario, com pena de mil réis.

A qual hermida está muito bem acabada, de fermosa parede, e bem caiada, com seu enchaxo (?) na parede, de seis palmos em alto, lavrado de esquadria com suas folhagens e seu campanario muito bem feito. Está bem emmadeirada d’olivel e toda forrada, com suas portas principal e travessa, de esquadria os portaes, e o telhado mui bem concertado e todas as telhas com cal. A invocação (é) do Padre Senhor São Bento, que está feito de vulto, de quatro palmos e meo em alto, mui bem pintado.

Os ornamentos pera a missa e digo altar irão da dita igreja que tem bastantes pera tudo. Pello que pede a Vossa Mercê lhe mande passar licença pera dizer missa na dita hermida e receberá mercê. João Roiz.

Ao Doutor Provisor em messa, vinte e oito de Junho de mil seiscentos e quinze. Mogo, Mergulhão, Moraes.

Passe licença, pagando a chancelaria Moraes.

P1110806  

Provisão

Nós o Arcebispo Primás, Senhor de Braga, etc. Pella presente, vista a petição e certidão atrás, damos licença que se possa alevantar altar e dizer missas na hermida de São Bento, nomeada na dita petição, e nella fazer todos os mais officios divinos, não perjudicando porém em cousa algua aos direitos da igreja matris, em cujus lemites a dita hermida está situada.

Dada em Braga, sob nosso sello e sinal do muito Rev.º Doutor Aleixo de Moraes, Governador e Provisor de nosso Arcebispado, aos vinte e nove dias de mês de Junho.

Thomás Coelho notario, que serve no officio da casa deste Arcebispado, a fez, de mil seiscentos e quinze annos.

Ao sello parece que por se mandar fazer por visitação esta hermida dez réis, aliás hua dobra cruzada, hé dobra cruzada. Mergulhão. Ao escrivão corenta reis.

A qual petição e provisão eu o Cónego Valeriano d’Alfaro, escrivão do Registo Geral, tresladei bem e fielmente da propria, a que me reporto, com a qual a concertei e com o notário abaixo assinado. E por verdade assinei aqui aos trinta dias do mês de Junho do dito anno ut supra.

Valeriano d’Alfaro

(Arquivo Distrital de Braga, Registo Geral, Livro 12, fis. 131 v.-132 v.).

In “Cónego Avelino de Jesus Costa – no Diário do Minho”

*Este artigo foi publicado no Diário do Minho em 7 de Agosto de 1980.

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